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“Eu preciso te ver.”


Ontem mesmo eu não sentia absolutamente nada. Coração pulsante bombeava sangue para meu corpo inteiro se manter em pé. Era a máquina perfeita que fui quando nasci. Hoje meu coração lateja na falta que você me faz. Eu queria te ver. Por trás de um véu. Do outro lado da rua. Em cima de um prédio. Escondida embaixo de um viaduto. Atrás da árvore. Em forma de mosca, fantasma ou quaisquer outras coisas. Eu não me importo ou me importaria. Eu só quero te ver. Eu nunca imaginei que seria dependente de uma imagem frustrantemente distante para me mantes inteira. Eu vou me despedaçando em dias que sinto saudade. Eu vou me perdendo, adentrando a terra como um morto voltando ao lar. Eu vou caindo, morrendo, me deteriorando como um ser podre sem manutenção. Eu preciso de você. Trezentas vozes do meu único eu grita isso incessantemente, como você pode continuar aí, tão distante de mim? Se for verdade todas as indiretas secundarias, porque você ainda mantém essa sua ideia de se manter longe de mim? Eu te quero aqui, além de aqui dentro. Eu te quero dentro, fora, aos lados, em cima, em baixo, atrás, na frente – eu te quero pra mim.    
Eu tenho tanta raiva desse seu jeito despretensioso que se balança sobre os pés, como se dentro de você não existisse um inferno semelhante ao que existe em mim. Eu te odeio por você parecer que não sente nada, inabalável, fútil, trivial demais para qualquer sentimento um pouco mais profundo se importar em invadir você. Parece que tudo é rosa e doce e “tudo-certo” para você. Enquanto para mim é negro, fundo, amargo e afiado. Demônios e problemas. Traumas e medos. Parece que tudo é tão fácil para você. Até parece que você não se lembra de mim…                                       
Enquanto eu esfaqueio o meu lado demoníaco tentando ser alguém melhor em minha rotineira guerra contra o mal que habita em mim, você calça seus tênis de marca e sai por aí a gracejar a vida.    
-  Resabinar.   

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